terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Alguma vez.


Você ama alguém? Alguma vez já parou pra pensar na possibilidade de alguma coisa ruim acontecer a essa pessoa? Alguma coisa bem ruim. Algo como ela descobrir uma doença incurável, sofrer um acidente grave ou qualquer coisa do tipo. Melhor dizendo, se ela morresse. Você se arrependeria de algo? Que fez ou deixou de fazer. É péssimo imaginar, mas não é impossível de acontecer. Portanto, pense nisso. Coisas ruins podem acontecer comigo, com você ou com qualquer pessoa, a qualquer momento.
Se parar pra pensar nisso de verdade, vai querer tentar demonstrar seus sentimentos da melhor maneira possível, tanto se for um sentimento ruim em relação a algo que te incomoda, mas principalmente se for um sentimento bom, simplesmente pelo fato de querer que a pessoa que você ama saiba bem o quanto é amada e o quanto vai te fazer falta quando se for; vai querer aproveitar cada minuto ao lado dela, sem querer perder tempo com discussões e outras coisas ruins; não vai querer deixar um “eu te amo”, nem um “estou com saudade” pra depois. Porque se acontecer alguma coisa, você não quer se arrepender de nada, que fez ou deixou pra depois, quer apenas ter certeza de que não poderia ter sido melhor do que foi, de que aproveitou o amor da melhor forma que pode.

— thais de moura.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O pacto - Parte 3



Na manhã seguinte, o sol estava forte e os pássaros cantavam alegremente sobre as árvores. Alannah acordou com a claridade no rosto e se assustou ao ver que Kenzie dormia ao seu lado. Observou-o um pouco; ele estava tão sereno... Era encantador.
Ouviu baterem à porta e foi atender. Era Stefan Paleeve.
- O senhor por aqui... A que lhe devo a honra da visita?
- Quero falar com meu filho – respondeu, de forma rústica. Alannah permaneceu imóvel. – Ande, não tenho o dia todo.
- Senhor, porque acha que ele está aqui?
- Por que o procurei por toda... Aliás, não é da sua conta, mocinha.
- Bem, eu sinto muito, mas ele não está aqui.
Ignorando a resposta, Stefan empurrou Alannah e entrou junto com seus dois capangas. Procurou por toda a casa, até finalmente chegar ao quarto onde Kenzie estava dormindo. Puxou-o pelos cabelos.
- O que está fazendo aqui, seu idiota? Sua noiva morre tragicamente e você vem passar a noite com uma outra qualquer?
Kenzie estava sonolento, não entendeu de imediato o que estava acontecendo e, em meio aos olhares do pai e de seus ajudantes, tentava compreender a situação. O pai deu-lhe um tapa no rosto.
- Responda-me! O que faz na casa dos Sovereignsun?
- Eu não sei, pai – respondeu, levando a mão ao local do tapa. – Mas não se atreva a chamar Alannah de outra qualquer mais uma vez, ela não é uma qualquer. Ela é o amor de minha vida, com quem sempre tive vontade de ficar ao lado para sempre.
Num súbito acesso de fúria, o pai começou a tapeá-lo e a gritar nomes terríveis; ele apenas tentava se defender. Alannah entrou no quarto e, ao ver o pai batendo nele, foi possuída por uma ira que quase não cabia dentro de si. Imediatamente se pôs a bater e arranhar o velho, e após levar alguns golpes e ser empurrada novamente, pulou sobre ele e agarrou suas costas. Começou a puxar seus poucos fios de cabelo, arrancando tufos e deixando em seus lugares buracos que logo começavam a sangrar.
Assustados, os capangas de Stefan se aproximaram para ajudá-lo, mas foram jogados para longe por uma força invisível. Bateram na parede e caíram desmaiados no chão.
 Alannah soltou o homem e ficou imóvel com o olhar fixo nele. Ele caiu no chão e tentou se arrastar para longe dela, mas não pode, pois suas pernas estavam presas, como se ali houvessem correntes que apertavam e imobilizavam-nas. Estava completamente aterrorizado, soltou um urro de dor. Implorou a ajuda do filho, que assistia à cena, horrorizado, mas não obteve resposta, apenas um olhar que se traduzia como “Depois de tudo, como tem coragem, pai?”.
Ela se abaixou e se aproximou de Stefan. Como uma cobra preparando-se para o bote, rodeou-o e olhou-o nos olhos por um tempo. Kenzie também se abaixou e se pôs na frente do pai, implorando que Alannah não o machucasse. Não era ela quem estava no controle de seu corpo, mas graças ao olhar angustiado de Kenzie, conseguiu tomar o controle, ficando atônita.
 Quando Sally chegou em casa, estranhou a porta aberta. Deixou a bolsa na porta e correu até o quarto de Alannah para verificar. Teve uma repulsa ao ver aqueles homens caídos ao chão, mas espantou-se mesmo com o fato de um deles ser o senhor Stefan Paleeve.
- Oh meu Deus, o que aconteceu aqui?
- Ele precisa de um atendimento agora!
- Está bem, está bem. Ajudem-me a levá-lo até lá fora.
Os três juntos carregaram o corpo até o coche e levaram-no até a casa do curandeiro da vila, Dante Tricky. Deitaram-no em uma cama.
- Ele foi atacado por...
Eles se entreolharam, por fim, Kenzie foi quem respondeu.
- Foi um urso. Não faço ideia de onde ele veio... Eu estava desarmado.
- Entendo. Os animais estão se aproximando bastante dos povoados. Bem, vocês terão que deixá-lo aqui para que eu possa fazer o ritual completo da cura. De manhã mando chamá-lo, senhor Paleeve.
- Mande também a conta. Ficarei muito grato, Dante.
Dante sorriu e eles saíram. Voltaram para a casa de Sally e acomodaram-se na sala de estar. Passaram alguns minutos em silêncio.
- Alannah, pode me explicar que diabos foi aquilo? – Kenzie perguntou, levantando-se.
- Eu, eu... Eu não... Eu não sei, Kenzie – ela começava a gaguejar, com terror nos olhos. – Era como se... Co-como se não fosse eu, entende? Não... Não era eu. Eu não seria capaz de fazer isso. Eu juro!
- Acredito em você – disse ele, com uma expressão facial duvidosa.
- Kenzie - continuou, levantando-se também -, olhe em meus olhos e diga: acha mesmo que eu seria capaz de fazer aquilo?
Ele permaneceu quieto e tia Sally interveio.
- Foi você, Alannah? Quero dizer...
- Tia Sally, foi meu corpo, foi algo dentro de mim. Eu nunca faria...
- E eu tentava me convencer de que isso não aconteceria.
- O que? – Perguntaram os dois ao mesmo tempo.
- Sentem-se, queridos, vou lhes contar uma história – eles obedeceram. – Há quarenta anos, nasceu uma garotinha chamada Dorothea. Era uma garota bela e meiga. Quando cresceu e se casou, após muitas tentativas e preces, descobriu que não podia ter filhos, e esse era o seu maior sonho, sua prioridade na vida. Num dia de manhã, um velho misterioso bateu à sua porta e lhe pediu que o encontrasse naquela mesma noite, em um galpão ali perto, pois tinha um assunto muito importante a tratar. Um assunto de grande interesse de sua parte. Sem conter a curiosidade, ela compareceu ao encontro, escondida do marido. O homem lhe disse que era um poderoso mago e que poderia ajudá-la a ter uma filha, e que em troca desejava apenas uma coisa: sua alma. Dorothea hesitou a princípio, mas sua vontade de ter uma filha era maior que tudo. Selou então o pacto, sem saber que o velho na verdade era Lúcifer. Passados os nove meses, a criança nasceu; era uma linda garotinha. No mesmo dia, seu marido faleceu de forma estranha. Aturdida, voltou à casa dos pais, os quais também vieram a falecer alguns dias depois. Dorothea, que sempre fora religiosa, foi à igreja procurar uma explicação para o que vinha acontecendo e descobriu que enquanto estivesse perto de sua filha, onde quer que fosse, quem as acolhesse morreria. Como a alma de Dorothea agora pertencia a Lúcifer, a filha havia sido amaldiçoada. Sua garotinha era a filha de Lúcifer. Foi então que Dorothea entregou a filha para uma cunhada, para amenizar o sofrimento da vida da garotinha. Mas nesse ponto, tudo o que apresentasse perigo ou sofrimento para a criança ou alguém próximo dela, seria extinto por suas próprias mãos, por mais que sua alma seja boa. Ela nunca pode e nem poderá viver entre pessoas falsas e com maldade no coração. – E terminou, lentamente: - E essa garota é você, Alannah.
Todos estremeceram ao ouvir a última frase, e, com terror, assistiram à tempestade que começava a cair do lado de fora da casa.


— thais de moura.